POESIAS

CONTO

Eu tenho um conto.
Mas não sei se conto.
É muito grande o conto.
Mas se eu resumir, eu conto.
É fato verídico, o conto.
Sem citar nomes, eu conto.
É para não comprometer os personagens do conto.
Só com essa condição, eu conto.
Era domingo e os dois estavam em um canto.
Havia gente por todo canto.
Mas, eles permaneceram ali, no canto.
A se olharem de canto
Lentamente foram se aproximando em um canto.
Já não se olhavam mais de canto.
Nos olhos um do outro viram tanto encanto!
Que mal cabia naquele canto.
Já não se importavam de haver gente por todo canto.
Os dois estavam em um canto.
A sonharem com outro canto...
Que pudessem viver todo aquele encanto.
Sem gente por todo canto.
E com um beijo selar aquele encontro, naquele canto.
Se foram felizes para sempre eu não conto.
Pois, a vida real não cabe em um conto.

Odalea Melo


TÃO ASSIM...

- Estou só...
- Estou com...
- Estou tão...
- Estou assim:

- Só pensando,
- Com vontade,
- Tão saudosa!
- Não sei do quê...
- Não sei por quê...

- Estou em...
- Estou pra...
- Estou na...
- Tão fora de mim!
- Me sinto assim:

- Entediada,
- Para baixo,
- Naufragada!
- Não sei em quê...
- Não sei por quê...

- Vou ficar só...
- Vou ficar com...
- Vou ficar tão...
- Vou ficar assim:

- Sozinha,
- Contrariada,
- Tão fora de mim!
- Tão perto do fim!
- Tão longe de mim!

Odalea Melo



TRAGO

Trago
Não cigarros
Trago
Lembranças
Esperanças
E ânsia
Trago desejos
Trago seus beijos
E muito mais...

Trago esse trago amargo
Que desce num engasgo
Rola pela garganta
E se aloja no peito
É um engasgo
Que embola
Nem sobe
Nem desce
Tão pouco desaparece

Sem quere tragar
Esse trago amargo
Eu trago
Trago todos os nossos momentos
E me embriago
Nesse engasgo
Ah! Se eu soubesse como te destragar!
Porque mesmo sem querer
Eu trago

Então fico a tragar-te
Dia e noite
Em casa ou no carro
Sabe?
Você é pior que cigarro

Se eu pudesse
Te destragar
Destragaria
Em apenas um pigarro
Porque
Mesmo sem querer
Eu trago...
Não cigarros
Trago lembranças...
Esperanças...
E ânsias...

Odalea Melo